Eis que um dia quis muito uma bolsa de crochê e correu pra recuperar o tempo perdido. Sua família paterna era bordadeira, elas faziam TUDO com as mãos. E ela não gastou nenhum minutinho sequer a aprender. Também não foi estimulada. Imagino que porque era um negócio meio ingrato, caro, pra um punhadinho de pessoas que não viam valor nas madrugadas com agulha e abajur .
Então se dispôs a aprender, E aprendeu E testou. E gostou. E viu ali a possibilidade de poder ser ela, de poder ter a sua empresa. E de tanto futicar as bibocas, e encontrar achados, pôs-se a pensar que poderia decorar o mundo. Mentira! (HAHAHA ) Só o seu entorno mesmo. E também poderia ser tudo (ou pelo menos um tiquinho) aquilo que desejava: ser ela mesma, ser reconhecida por isso, ser requisitada por isso, ser valorizada por isso, compartilhar o que sabia, aumentar as pessoas a quem ajudava, dar BOUAS risadas , a receber as pessoas em momentos de alegria e não de problemas como era o caso de onde sua faculdade a havia levado. Queria preparar sua casa pra receber novas histórias.
Ela queria poder colocar no trabalho amor, o SEU amor, seu jeito de amar, queria que tudo que tivesse dentro do tantão de células (muuuuuuitas células) dela se materializasse, e tocasse logo quem fizesse o primeiro contato. Queria que tudo fosse mais bonito. As almofadas, a sala, a casa, a vida, os relacionamentos, as pessoas. Era sonho, MUITO sonho. Fantasia. Coragem. Viagem? E ela duvidou. E fadigou, e errou, e tentou de novo. Procurou quem tava falando disso, ponderou. E acreditou que podia ser muito mais que aquele saco de batatas que as vezes quando fritas fazia um ai feliz. E sonhou em fazer sentido pra ela mesma e resgatar tudo que restou de bom da infância.
Quis ser mãe, depois de não querer . Quis ser criança, depois de ser adulta. Quis ser magra, depois de ser gorda (mentira, só menos gorda). Quis mandar na própria vida. Quis passar de ajudante depois de ser ajudada. Quis tudo que podia ter, que podia ser. E deu o primeiro passo. E pensou em coisas óbvias, em outras criativas. . . . E AI SURGIU A BEDELHO
Durante meses aprendeu em meio as encomendas a fazer com as mãos e o valor disso. E quis dar mais um passo, e mais um pulo. Pensava que misturar era a chave.
Queria que seu ponto doce fosse fofinho e forte. Aconchegante e brilhante. Seco e cintilante.
Queria viver de inventação. E agora tá pensando em contar pro mundo, que vai entregar as coisas que saem da sua cabeça. No lugar onde desejou ficar (belo horizonte, uai), com as pessoas que mais ama nesse mundo de meu Deux.
E agora nem tem muitas ambições. Só quer ir, só quer fazer. Finalmente quer ser quem ela hoje pode ser !
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bedelho /ê/
be -de-lho
1 Ferrolho ou corrediça de ferro usado para trancar portas; é colocado entre os batentes de uma porta, ou entre o batente e a ombreira, e por meio dele a porta é aberta ou fechada
2 Jogo de trunfo com poucas pessoas
3 Quem intromete-se em assuntos em que não é chamado
bedel
1 Funcionário que desempenha funções de teor administrativo em faculdades
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.E ai abriu a ””bedelho””